FOFOCA - A ARMA DOS TOLOS E DOS OCIOSOS

| 31 de julho de 2008

“A fofoca é o mais desprezível dos vícios; pois, por não poder influenciar o espírito e o caráter dos sábios, rasteja como uma serpente venenosa e refugia-se na alma dos fracos, tolos e ociosos”
Por Gutemberg B. de Macêdo
A fofoca é um fator inerente à vida de qualquer sociedade, seja ela primitiva ou desenvolvida. No Brasil, travestida da preocupação com a verdade, a fofoca ganha especial notoriedade. Ela se manifesta através da esperteza de falsos "especialistas" que destilam inveja, ódio, despeito, ciúme, vingança e maldade.
São críticos da vida alheia que não conseguem ver nada de positivo na beleza, no sucesso, no talento e na vitória, de outras pessoas, a não ser nos próprios atos. Além deles, há os ociosos, que por nada fazerem, se aprimoram na arte de criar notícias, informações, contra-informações, intrigas e ofensas imaginárias.
A fofoca é um mal que se propaga com a velocidade do som; elas têm a força dos ventos e o poder destrutivo de um terremoto. Com elas, especuladores de plantão conseguem provocar a alta ou a queda de ações das bolsas de valores e influenciar o desprestígio ou a ascensão de governantes e nações.
Com elas, pessoas inescrupulosas põem em cheque a reputação de homens ou mulheres e a imagem de organizações, públicas ou privadas.
As fofocas contaminam os bons costumes, azedam as relações interpessoais, destroem a eficácia do trabalho de profissionais e o ambiente de trabalho de inúmeras empresas. Além disso, põem em risco o patrimônio empresarial e as relações trabalhistas entre empregadores e empregados, promovem o favorecimento indevido de uns e a demissão sumária de outros, semeiam o radicalismo e o ódio, dentre tantos e tantos efeitos nocivos.
Não há exército capaz de detê-las, espiões preparados para rastrear suas pegadas desde sua origem, testemunhas conscientes e dispostas a confirmá-las; promotores aptos a denunciá-las ou juízes conscientes e decididos a condená-las.
Portanto, a sua volta não existem leis, discrição, policiamento, segurança empresarial, padrões éticos, dignidade, verdade ou justiça. Elas atacam indistintamente, amigos e inimigos mortais, ricos e pobres, poderosos e fracos, jovens e adultos.
Como folhas secas, elas costumam flutuar na superfície. Afinal, os fofoqueiros não são pessoas que gostam de mergulhar nas profundidades à busca de pérolas, mas preferem as superfícies. Aqui, justifica-se a sábia análise de Platão, um dos pais da filosofia grega: “Os sábios falam porque têm algo a dizer; os tolos, porque têm de dizer algo".
As fofocas, dificilmente, têm propósito construtivo, educativo ou mesmo, corretivo. A razão é muito simples: os fofoqueiros ignoram o momento de encerrar a busca por novas informações; além disso, eles geralmente as modificam e enfeitam antes de transmiti-las, com o propósito de torná-las um salvo-conduto, apto a lhes assegurar vantagens e lucros pessoais, mesmo que não sejam duradouros.
No mundo empresarial, como em qualquer outra instituição séria, o fofoqueiro, mesmo que desfrute da simpatia e dos aplausos daqueles que o cercam e bajulam, jamais será visto como pessoa confiável.
Os elogios que recebe são geralmente hipócritas e destituídos de valor, porque frágeis demais para coibir o efeito negativo do veneno que destilam em suas histórias e fantasias. Quem teria, porventura, a coragem de confidenciar a um indivíduo bisbilhoteiro determinadas informações? Que garantia teria qualquer cidadão de que essas mesmas informações não circulariam pelo mundo afora? Que líder, em sã consciência, promoveria tal indivíduo, sabendo de antemão que ele não inspira confiança e que suas palavras não merecem credibilidade? Barry Eigen, registrou essa particularidade ao escrever: "Confiança é a chave. É a crença na lealdade de outra pessoa. É a fé em sua capacidade de pensar e em seu julgamento, sabendo por antecipação que seu comportamento será sempre adequado, em qualquer circunstância. É ter certeza da integridade e da ética do outro, é sentir-se tranqüilo, quando a pessoa assume o comando. Significa ainda, poder contar com ela, tendo a certeza de que as situações difíceis serão tratadas de maneira correta, racional, pronta e eficiente. Enfim, confiar é ter segurança".
Quando a fofocagem se torna um hábito entre as pessoas numa empresa, seja ela pública ou privada, seus efeitos negativos não demoram a aparecer. Paira um sentimento de desconforto, insatisfação, suspeita, e até mesmo de paranóia. Alguém diz algo a outra pessoa sobre uma terceira (ausente). É muito difícil que alguém seja produtivo e eficaz, quando percebe que está sob o fogo serrado e cruzado da fofocagem – é preciso se proteger. Por outro lado, é difícil olhar para a frente quando se tem de olhar para trás. Geralmente, a queda é muitas vezes inevitável, ou a cadência da corrida diminuída.
A bem da verdade, é impossível banir de uma empresa a fofoca, mas ela pode ser reduzida, significativamente, se os profissionais tomarem alguns cuidados e providências.
Fale diretamente, e não pelas costas, com as pessoas que você julga despreparadas. Aja com elas de maneira correta e justa. · Não fale sobre seus problemas pessoais com aqueles indivíduos que, de antemão, você sabe, geram dúvida quanto à capacidade de ajudá-lo. É preferível chorar sozinho na privacidade de seu quarto a fazê-lo em público, nos ombros da pessoa errada.
Quando tiver dúvidas em relação a uma pessoa e seus atos, que o afetem direta ou indiretamente, confronte-a corajosamente, mas em particular. Fazê-lo em público significa expor-se e multiplicar as dúvidas existentes.
Embora seja uma tendência natural, muitas pessoas – sabemos - desejam expressar suas opiniões e versões publicamente. Quando se sentir tentado a fazê-lo, reflita e contenha o ímpeto de se expor desnecessariamente.
Diz a sabedoria popular: “Em boca fechada, não entra mosquito.” · Cuidado para não julgar precipitadamente as pessoas e os fatores que as motivam a agir de modo pouco convencional ou duvidoso. A mesma língua ferina, que critica e envenena as ações de outras pessoas, poderá voltar-se contra si mesmo e deixá-lo em apuros como crítico contumaz e insensato.
Quando se perceber tentado a dar ouvidos a fofoqueiros, mesmo que por brincadeira ou curiosidade, reaja. Sua atitude não poderá jamais encorajar a prática da fofoca entre seus pares e colaboradores. Lembre-se que a maledicência só serve para corromper os bons costumes. ·
Preocupe-se e ocupe-se com aquelas coisas que contribuem para o desenvolvimento do seu caráter, de sua carreira e de sua companhia. A fofoca, certamente, não tem esses atributos. “Mind your own business” (‘cuide do próprio negócio) – ensinavam os puritanos que fizeram a colonização norte-americana.
Evite o descontrole emocional diante das pessoas com quem trabalha. As irritações do dia-a-dia não podem afetar as relações de trabalho. Elas podem conduzir a desdobramentos comprometedores à imagem de um líder perante sua equipe. ·
E, por último, omitir, falsificar ou dar propriedade de seriedade a uma inverdade com a intenção de enganar é também uma forma vergonhosa de mentir. Ela pode até ser considerada “uma mentirinha branca, sem muitas conseqüências” e socialmente aceitável, mas mesmo assim continua sendo uma mentira. E essa qualquer que seja a sua forma, deve ser evitada, se ambicionamos um mundo melhor, mais justo e mais seguro.
É preciso que as pessoas se conscientizem de que o tempo é fator estratégico em suas vidas. Portanto, ocupá-lo com assuntos de menor importância significa perdê-lo. “Diga-me como trata o presente e lhe direi que filósofo você é... Se você ligar o presente, tudo estará ligado. Se você mantiver o presente livre, então haverá lugar para as outras liberdades. Se você esterilizar o presente, tudo o mais será estéril, vazio. Se você tornar o presente fecundo, tudo o mais será fecundo” (Charles Péguy).
Fonte: Você S/A

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